domingo, 29 de janeiro de 2012

O garoto e o ridículo

Todo mundo sofre. Tem gente que sofre por amor, tem gente que sofre por não amar.
Sou um garoto que cresceu lendo as cartas de amor que o pai escrevia para a mãe, e sofro todos os dias por não ter alguém a quem remeter as cartas românticas que escrevo e re-escrevo.
Os amigos gritam aos quatro ventos o quanto dói amar e não ser amado. Alguns choram por terem cometido deslizes que os levaram a perder os únicos-e-maiores-amores-de-suas-vidas. E eu sempre ali, tentando consolá-los de algo que nunca vivi.
Não é fácil ficar sempre às margens de um mundo ao qual não me encaixo, um mundo cheio de amantes. Às vezes não me encaixo nem em meu próprio corpo de tanta vontade de caber em uma história de amor.
Eu só queria chorar ao ver minha garota partir e contar os minutos - que mais parecem horas - que restam para vê-la outra vez. Passar os melhores dias da minha vida ao seu lado numa sorveteria qualquer na esquina, jogando conversa fora e vendo seus olhos sorrirem. Perder noites de sono ao assisti-la dormir.
Ou então passar por um rompimento. Provocar uma briga, passar três dias de cama e com febre, ouvi-la ligando e mandar dizer que não estou. Depois, ir até sua janela, gritar, brigar, cantar "Exagerado*" e vê-la vindo em minha direção, dizendo que sou um babaca mas que me ama e me perdoa. E então, nos beijamos longamente como naqueles filmes em que o beijo só acontece no final.
Mas, cansei de imaginar essas cenas. No roteiro que me foi escrito eu sou o personagem principal, e único. Eu só queria ter alguém com quem conversar no fim do dia, junto a um café bem quente e doce - porque de amargo já me basta essa vida em que tenho que assistir sozinho o céu cinza eternamente se pondo sobre os edifícios.
O amor é o ridículo da vida*? Pois eu quero ser muito, muito ridículo.


* Música e poema de Cazuza

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