quinta-feira, 2 de abril de 2015

E agora, Cara?

Estava aqui me lembrando daquelas madrugadas quando rodávamos todos os butecos do bairro, trocando as pernas para subir ou descer a Rua da Bahia. Dos domingos em que você acordava com a barba mal feita, e fazia um café antes de me dizer bom dia. De todas as vezes que você me disse que sentia um vazio imenso depois do sexo, e por isso não me deixava te soltar, e se agarrava em mim com aqueles joelhos fortes que você tinha. Pensei em todas as vezes em que ficamos largados no seu apartamento, dizendo "Brother, my cup is empty" quando acabava a cerveja... Nick Cave sempre soube das coisas. 
Numa tarde você me fotografou na sacada, à luz de um quase adormecido raio de sol, e me disse que amor não é escolher o nome do cachorro juntos, ir almoçar com a família do outro aos fins de semana, muito menos dar e receber apelidos ridículos. Que o amor, na verdade, é secreto e silencioso, algo bem parecido com o que tínhamos, mas que amor não era nem para mim nem para você. Pois você tinha um compromisso antigo com aquela angústia que não conseguia deixar de sentir, e eu, bem, eu sempre tentei não deixar meu coração esfriar. E então você vai e desaparece desse mundo, sem aviso, sem despedida, morre como todo mundo vai morrer um dia. Por todos os "se cuida" que já me disse ao me ver indo embora, digo e repito que não vou me cuidar agora que você não é mais meu par.