domingo, 18 de setembro de 2011

Minha vida sem mim

Tenho andado distraída, impaciente, e um tanto quanto infeliz. Como naqueles dias em que eu não caibo em lugar nenhum. Como naqueles dias em que algo queima dentro de mim, incessantemente, causando uma angústia enorme que parece não ter fim. Ontem foi mais um desses dias. 
Ontem senti como se não fosse mais sobreviver ou suportar. Foi então que, não sei ao certo como isso se deu, comecei a vizualizar toda a minha vida sem a minha presença. Minha vida sem mim. E chorei, e sofri, e doeu, muito.
Doeu muito ver todas as pessoas que eu amo falando de mim como se eu não mais existisse. Doeu muito ir até o trabalho e escutar a conversa dos meus colegas sobre como eu fui, tão extrovertida para conseguir esconder uma introversão maior ainda. Doeu muito olhar meus alunos de longe perguntando porque eu não tinha ido dar aula aquele dia. Doeu muito ver outra pessoa na posição de oradora na minha formatura explicando o motivo de eu não estar lá. Doeu muito perceber que eu fiquei muito, muito triste em não estar participando de momentos dos quais, às vezes, eu reclamo tanto.
Doeu mais ainda sentir o sofrimento da minha família. Lembrar de com quais palavras eu deixei cada um. As palavras frias que tenho falado ultimamente, um tanto indecisas, um tanto distantes. Pensei em como seria para minha mãe ver a única filha se esvaindo, assim. Comecei a pensar no que fariam com meus livros e filmes, se os guardariam, se não. Então imaginei como seria quando lessem todas as cartinhas que eu guardo em uma caixinha, as cartinhas e bilhetes da adolescência. 
E foi num impulso que saí dessa imersão e corri para a minha caixa de cartinhas. E li todas, devorando uma a uma, lembrando de cada um daqueles momentos, relembrando cada aventura. Então percebi como eu já fui uma pessoa menos complicada, mais alegre, menos dura. E tive uma vontade enorme de ser alguém melhor agora, com tudo que sei e antes não sabia, mesmo com a ausência de todas as pessoas que perdi nessa caminhada, e com todas as que conquistei e tenho em minha vida agora. Viver o aqui, na minha vida, bem assim. Pois, se tem algo que eu decidi que não quero, é viver minha vida sem mim.