sexta-feira, 10 de setembro de 2010


Ela e o pai foram ao médico. Consulta de rotina pro tipo de pessoa que tem uma rotina louca. Na entrada, ele vai na frente, e ela, enquanto caminha atrás, tentando acompanhá-lo, se lembra do que tentou esquecer o dia todo, a semana toda. Os olhos ensaiam algumas lágrimas, e o pai senta deixando uma cadeira depois da dela. Aquele lugar vazio, o silêncio interno se opondo a frenética movimentação da sala de espera. O lugar que, provavelmente, não será ocupado tão logo. O pior, ou melhor, é que quem poderia ocupar aquele lugar nem ao menos imagina que ela esteja sofrendo por isso. Talvez ela só quisesse alguém pra alimentar um sonho maior, pra servir como motivação do trabalho árduo de cada dia que ela viveria até que o momento certo chegasse. Ela pensa em judeus, viagens, shows, madrugadas, mensagens de celular nas primeiras horas da manhã e camisetas azuis. Ela pensa buddy, pensa beloved. Ela pensa e se entristece a cada pensamento. Então ela se lembra de um inverno passado, e reflete: Que va-t-il faire de nos rêves? Mas, parece que os sonhos eram só dela. Então, seus sonhos estavam partidos e repartidos; quase dava pra tocar as fissuras. E agora? E a partir de agora? Qual será seu último pensamento do dia, a cor das camisetas e o DDD antes do número do telefone? A porta do consultório se abre. O médico chama o nome dela. Pode ser que seja um sinal, que veio pra mostrar que, querendo ou não, as portas se abrem. Ela entra e a consulta começa, mas, ao invés de pedir ao médico um remédio para o coração como tinha planejado, ela deseja que, ao sair, a mesma porta que causou todo esse mal entendido se feche.

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