segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

SAUDADE

(Augusto dos Anjos)

Hoje que a mágoa me apunhala o seio,
E o coração me rasga atroz, imensa,
Eu a bendigo da descrença em meio,
Porque eu hoje só vivo da descrença.

À noite quando em funda soledade
Minh'alma se recolhe tristemente,
Pra iluminar-me a alma descontente,
Se acende o círio triste da Saudade.

E assim afeito às mágoas e ao tormento,
E à dor e ao sofrimento eterno afeito,
Para dar vida à dor e ao sofrimento,

Da saudade na campa enegrecida
Guardo a lembrança que me sangra o peito,
Mas que no entanto me alimenta a vida.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

paisagem velha

Ela não sabe se essas sensações são devido as andanças que tem feito por aí, os outros ares que respirou, as nuvens que são retas embaixo, os bares de paredes vermelhas, ou os sotaques diversos que contemplou. Ela só sabe que consegue sentir. Até que isso de sentir não é lá de todo ruim, pois, já houveram dias em que não sentiu nada... É uma inquietação chata. Um sentimento de que ela precisa viver algo que está fora dessa cidade, dessas cores, dessas praças, dessas ruas. Algo além, sabe? Além desse samba e desses afazeres. Existe também um medo - e certeza - de que depois, já em outro lugar, tudo volte a essa inquietação, e ela precise viver algo que esteja fora, bem longe dali.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

The same sun - Have Heart

Pra ouvir - aqui

"Son, did you stare too long in front of that mirror?
did it break when your conscience didn't get any clearer
with the stomach you'll fill with all the food you eat
and lack of pain you feel for the eyes that weep
outside your windowsill of the castle where you sleep?

Has the sun stopped shining upon the crown you hang?
has your love and your hate started to feel the same?
did that leave you feeling empty, feeling sick,
feeling as empty as a child's stomach?

As alone and forsaken as you'd like to be
there are shoreless miseries of oceans, not seas
while you wallow and wait in your tower of ivory
your sister is starving, your brother is begging

Your sisters are starving, your brothers are begging
your mothers are mourning, your fathers are folding

Unseen, unsung -- under the same sun

Wake up, look up, there's a warmth up there
a reminder of peace, a reason to care
A reason to care

Wake up, look up, that's something you share
There's more to life than the boy in that mirror...
Wake up, wake up, wake up."

...from the depths of this hell:
where the free are slaves,
no difference between the cowards and brave,
where our love and hate have become the same,
it's time that we "unbecame"...
Where the ears are deaf, and tongues too dry
where the arms don't hold, and seeing eyes go blind
Where nothing is everything
and everything is nothing:

"Arise-my soul, and sing."






terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

fórmula

Pra quem sabe
amar não existe
credo, cor, distância,
janela, calor, cotação,
lotação, rua, gênero.
Pra quem quer
amar é preciso
pôr-do-sol, refrão, chuva,
sonho, paciência, flor,
suspensão do medo.
Saber ou querer
amar independe de
qualquer fórmula assim.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Por todos os textos que comecei a escrever há dias e dias e não continuei

É. Não continuei. Porque, terminar é outra coisa. Terminar texto é como terminar de arrumar bagunça, terminar de falar com alguém que você admira, terminar de ler aquelas poesias que você tanto gosta. Não há esse tal de terminar de escrever.
Assim como também não há o que controlar, deter, determinar, segurar. É sentir amanhecer e ver que algo maior te enfia essa falta de controle garganta abaixo. Até porque a vida não é um vídeo-game. Ou seria algum jogo onde o personagem principal é, apesar das tentativas, incontrolável?
E é isso que tenho descoberto e encarado. Não há como prever e tentar acertar nas escolhas sempre e sobre-tudo. O inesperado dá um jeito de surpreender. Felizmente.